Cepticismo em relação ao aquecimento global para totós

Roy W. Spencer
Roy W. Spencer é um climatologista norte-americano que mantém um popular blogue na internet sobre as questões do "aquecimento global". Doutorado em meteorologia pela Universidade de Wiscosin-Madison, é actualmente investigador na Universidade do Alabama em Huntsville. Anteriormente, trabalhou largos anos na agência espacial norte-americana (NASA). É ainda autor do livro Climate Confusion, sobre as consequências da histeria em torno do "aquecimento global" para a ciência e para a própria sociedade. No seu blogue, Roy W. Spencer tem uma interessante secção de "cepticismo em relação ao aquecimento global para totós", que responde de forma relativamente acessível a uma série de perguntas frequentes sobre este tema.

1) As temperaturas globais estão a subir?
Não há forma de saber, já que a variabilidade natural da temperatura global é muito grande de ano para ano, com aquecimento e arrefecimento a ocorrerem constantemente. O que podemos dizer é que a temperatura à superfície e na atmosfera inferior aumentou nos últimos 30 a 50 anos, com a maior parte desse aquecimento a verificar-se no hemisfério norte. Além disso, a magnitude do aquecimento recente é de certa forma incerta devido às dificuldades na medição de temperatura a longo prazo com termómetros, já que essas medições são invalidadas por uma grande variedade de efeitos não-climáticos. Não há forma de saber se as temperaturas vão continuar a subir... só vemos o aquecimento (ou arrefecimento) pelo retrovisor, quando olhamos para trás no tempo.

2) Porque é que alguns cientistas dizem que o clima está a arrefecer enquanto outros dizem que o aquecimento está na verdade a acelerar?
Como existe uma grande variabilidade entre as temperaturas médias de ano para ano (e até de década para década), o aquecimento ou arrefecimento depende de quanto recuamos no tempo. Por exemplo, ao longo dos últimos 100 anos verificou-se um aquecimento geral, que se intensificou no fim do século XX. É por isso que alguns dizem que o "aquecimento está a acelerar". No entanto, se olharmos a curto prazo num período de tempo mais recente, desde o ano mais quente de 1998, pode dizer-se que o clima arrefeceu nos últimos 10-12 anos. Ou seja, como mencionei anteriormente, nada disto pode dizer-nos se o aquecimento está a ocorrer "agora", ou se ocorrerá no futuro.

3) As temperaturas globais não aumentaram anteriormente?
Sim. A longo prazo, na ordem das centenas a milhares de anos, existem dados indirectos consideráveis (não registados por termómetros) que indicam a existência de períodos de aquecimento e arrefecimento. Como a humanidade não pode ser responsável por estes eventos primordiais, conclui-se que a natureza pode causar aquecimento e arrefecimento. Se é esse o caso, então abre-se a possibilidade de (grande) parte do aquecimento registado nos últimos 50 anos ter também origem natural. Apesar de muitos geólogos gostarem de apontar a grandes variações de temperaturas que se acredita terem ocorrido há milhões de anos, não acredito que isso tenha utilidade para a compreensão de como os humanos podem influenciar o clima a escalas temporais de 10 a 100 anos.

4) Mas o gráfico do "stick de hóquei" não mostrava que o aquecimento recente não tinha precedentes?
As reconstituições do "stick de hóquei", que pretendiam representar as variações de temperatura ao longo dos últimos 1000 a 200 anos foram uma enorme fonte de controversa. O "stick de hóquei" já tinha sido usado pelo Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (IPCC) como um exemplo prático do aquecimento antropogénico, já que parecia indicar a ausência de variações de temperatura substanciais ao longo dos últimos 1000 a 2000 anos, até que a humanidade chegou ao século XX. As várias versões do gráfico do "stick de hóquei" estavam baseadas em volumes limitados de dados indirectos de temperatura (na maior parte, anéis de crescimento das árvores) e envolviam métodos estatísticos questionáveis. Na verdade, o grosso dos dados indirectos existentes apoia a teoria de que as temperaturas registadas durante o Período Quente Medieval, por volta do ano 1000, são pelo menos tão altas como as que se verificam actualmente. O facto de os anéis de crescimento das árvores indicarem erradamente um arrefecimento nos últimos 50 anos, quando na verdade ocorreu um aquecimento, devia ser um aviso para quem insiste em usar estes dados para determinar quão quente era o clima há 1000 anos atrás. Sem dados de termómetros, nunca saberemos com certezas.

Gráfico do "stick de hóquei", tal como foi apresentado pela primeira vez em 1998.

5) A fusão do gelo do Árctico não é uma prova do Aquecimento?
Aquecimento, sim... Aquecimento provocado pelo homem, não. O gelo do Árctico funde naturalmente todos os Verões, mas a retracção da cobertura de gelo do Árctico atingiu um pico em 2007. No entanto, só temos medidas precisas da cobertura de gelo do Árctico (e da Antárctida) desde 1979, quando começou a era dos satélites. É totalmente possível que a cobertura gelada do Árctico esteja aos mesmos níveis dos anos 1920 ou 1930, um período que os dados de termómetros do Árctico levam a crer que foi tão quente como o actual. Infelizmente não há maneira de saber, já que não tínhamos satélites na altura. Curiosamente, nos últimos 30 anos a cobertura gelada da Antárctida tem vindo a crescer a um ritmo tão rápido quanto o gelo do Árctico tem derretido.

6) E o aumento nível do mar?
Devo confessar, não presto muita atenção ao tema do nível do mar. Posso dizer que, ao nível que o aquecimento está a ocorrer, o nível do mar pode também subir. A subida deve-se parcialmente à expansão térmica da água e parcialmente à fusão de gelo existente em terra (cobertura da Gronelândia e da Antárctida, assim como os glaciares de montanha). No entanto, isto não diz nada da influência do ser humano na causa desse aquecimento. Se existem evidências do recuo de glaciares e do aumento do nível do mar bem antes de o ser humano poder ser considerado culpado, a causa é — uma vez mais — uma grande fonte de incertezas.

7) O aumento do dióxido de carbono (CO2) pode causar o aquecimento?
Existem pessoas muito inteligentes que afirmam que adicionar mais dióxido de carbono à atmosfera não causa aquecimento. Argumentam que "as formas de absorção de CO2 pela atmosfera já estão saturadas", ou algo assim muito técnico. Embora seja verdade que a maior parte do aquecimento associado à emissão de CO2 já existia antes de os humanos começarem a queimar carvão a e guiar SUVs, tudo isto é tido em conta pelos modelos climáticos que prevêem o aquecimento global. Adicionar mais "deveria" causar aquecimento, com a magnitude desse aquecimento a ser a verdadeira questão. Continuo aberto à possibilidade de um grande erro ter sido cometido neste ponto fundamental. Já aconteceram coisas mais estranhas na ciência.

8) O CO2 na atmosfera está a aumentar?
Sim, e de forma mais acelerada nos últimos 50 anos... sendo por isso que a "maioria" dos investigadores do clima defendem que o aumento do CO2 é a causa do aquecimento. As nossas medições do aumento de CO2 em vários pontos do mundo são possivelmente as medições a longo-prazo mais precisas que existiram no que diz respeito ao clima.

9) Os humanos são responsáveis pelo aumento de CO2?
Embora se verifiquem flutuações de curto prazo (de ano para ano) na concentração de CO2 na atmosfera devido a causas naturais, especialmente devido ao El Niño e La Niña, acredito actualmente que a maior parte do aumento a longo prazo deve-se provavelmente ao nosso uso de combustíveis fósseis. Mas do que eu posso dizer, a suposta "prova" dos humanos serem a fonte do aumento de CO2 — uma mudança na concentração atmosférica do isótopo do carbono C13 — pode ser consistente com uma fonte natural e biológica. O nível actual de CO2 na atmosfera é de 390 partes por milhão, enquanto o nível pré-industrial estimado era de cerca de 270 partes por milhão... ou talvez menos. Os níveis de CO2 podem ser muito mais elevados em cidades, assim como em edifícios com muita gente.

10) Mas as emissões naturais de CO2 não são 20 vezes maiores que as emissões humanas?
Sim, mas acredita-se que a Natureza é capaz de absorver CO2 ao mesmo ritmo que o produz. Podemos imaginar o volume de CO2 atmosférico como um reservatório gigantesco de água, com Natureza a bombear um caudal constante para o fundo do reservatório (atmosfera) em alguns sítios, escoando o mesmo caudal em outros sítios, e depois os humanos a produzirem um pingue-pingue constante para dentro do reservatório. Significativamente, cerca de 50% do que produzimos é retirado da atmosfera pela Natureza, a maior parte através da fotossíntese. A Natureza adora CO2. É o elixir da vida na Terra. Imaginem os gritos de protesto que haveria se estivéssemos a destruir o CO2 atmosférico, em vez de produzir mais.

11) O aumento do CO2 é a causa para o recente aquecimento?
Embora seja teoricamente possível, acredito que o aquecimento é em grande medida natural. De qualquer forma, não temos forma de determinar quanto do aquecimento tem causas naturais ou humanas.

12) Porque é que a maior parte dos cientistas acredita que o CO2 é responsável pelo aquecimento?
Porque (como já me disseram) não conseguem atribuir este aquecimento a mais nada. Na verdade, não é que existam provas que a Natureza não possa ser a causa. Há é uma falta de dados suficientemente precisos que determinem que a Natureza é a causa. É uma diferença fundamental, e o público e os políticos têm sido mal guiados pelo IPCC nesta área.

13) Se não foram os humanos, o que é que pode ter causado este aquecimento recente?
Essa é uma das minhas áreas de investigação. Acredito que as alterações naturais na radiação solar que é absorvida pela Terra — devido a alterações naturais na cobertura de nuvens — são responsáveis pela maior parte do aquecimento. Se isto é um mecanismo específico ou não, alinho na minoria que acredita que o sistema climático pode mudar por si próprio. As alterações climáticas não implicam uma fonte natural "externa" de forçamento, como uma mudança no Sol.

14) Portanto, o que poderá causar alterações naturais às nuvens?
Acredito que pequenas alterações no padrão de circulação da atmosfera e dos oceanos podem a longo prazo causar ~1% das mudanças na quantidade de radiação solar que as nuvens permitem aquecer a Terra. Isto é o suficiente para causar aquecimento ou arrefecimento global. Infelizmente, não temos medições suficientemente precisas das nuvens para determinar se esta é a causa principal do aquecimento nos últimos 30 a 50 anos.

15) Quão significativa é a fuga de emails do chamado Climategate?
Embora o Climategate não invalide, por si só, as teorias do IPCC de que o aquecimento global aconteceu e que os humanos são a causa principal para esse aquecimento, ilustra algo a que dei relevo no meu primeiro livro Climate Confusion: os investigadores do clima são humanos, e estão sujeitos a desvios.

16)  Porque é que os desvios na investigação do clima são tão importantes? Pensava que os cientistas se limitavam a seguir os resultados a que chegavam.
Quando os investigadores científicos abordam um problema, deixam-se normalmente guiar pelas suas noções pré-concebidas. Não quer dizer que a conclusão do IPCC de que os humanos causem o aquecimento global seja errada ou impossível. O problema está nas pressões políticas e financeiras que levaram a que o IPCC ignorasse quase por completo as explicações alternativas para esse aquecimento.

17) Quão importante é o "consenso científico" na investigação do clima?
No caso do aquecimento global, não tem qualquer valor. O sistema climático é tão complexo que a grande maioria dos cientistas do clima — normalmente especialistas em temas muito particulares — assume que há cientistas mais conhecedores, e que apoiam apenas as opiniões dos seus colegas. No meio deste pequeno grupo de cientistas mais conhecedores, há um considerável elemento de pensamento de grupo, espírito de manada, pressão dos pares, pressão política, apoio de determinadas políticas energéticas, e desejo de salvar a Terra — quer ela precise ou não.

19) Quais são as minhas previsões para as alterações nas temperaturas globais no futuro?
Não gosto de fazer previsões a longo prazo, até porque existem ainda muitas incertezas. Se fosse pressionado, diria que no futuro o arrefecimento é uma possibilidade tão real como o aquecimento. É claro que uma terceira hipótese é uma relativa estabilização das temperaturas, sem aquecimento ou arrefecimento significativos a longo prazo. Mas é importante ter em mente que, enquanto podemos verificar se a previsão meteorológica para amanhã está certa ou errada, daqui a 50 anos ninguém se lembrará se um cientista tiver previsto hoje que morreríamos todos de ataque cardíaco em 2060.

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